A Disparidade nas Reações da Imprensa
No cenário político brasileiro atual, as redes sociais e os debates públicos frequentemente revelam uma lógica de seletividade que levanta questões sobre a integridade da liberdade de imprensa. Um exemplo marcante é a situação envolvendo a governadora Fátima Bezerra (PT), que se negou a dialogar com a jornalista Carol Ribeiro. Em contraste, temos o relato do blogueiro Ronny Holanda, que afirmou ter sido agredido fisicamente e algemado por agentes municipais ligados ao prefeito Allyson Bezerra (União Brasil). Esses dois casos demonstram claramente como a cobertura e o engajamento político podem tratar a questão da liberdade de imprensa de maneira desigual.
A discrepância nas reações a esses casos é alarmante. No episódio envolvendo Fátima Bezerra, a recusa da governadora em dar uma entrevista foi amplamente criticada e considerada um sinal de falta de transparência, gerando um clamor geral entre profissionais de comunicação e veículos de imprensa. As vozes da sociedade civil se uniram, exigindo uma postura mais aberta e responsável por parte do poder público.
O Silêncio Perante a Violência
Em contrapartida, o incidente com Ronny Holanda revela uma gravidade que, apesar de ser muito mais séria, parece ter gerado um silêncio ensurdecedor em determinados círculos. O jornalista foi, segundo suas palavras, agredido quando estava de costas e posteriormente algemado por agentes de segurança sob ordens de um Secretário. A diferença na gravidade dos casos é evidente: enquanto a negativa da governadora é um ataque à liberdade de expressão, a violência física contra um jornalista constitui uma ofensa direta à democracia e à segurança dos profissionais de imprensa.
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Essa disparidade na repercussão é um reflexo do contexto político e das conveniências associadas a cada caso. A crítica auferida ao comportamento da governadora foi amplificada por adversários políticos, que rapidamente aproveitaram a situação para atacar sua administração. Por outro lado, no incidente de Mossoró, o prefeito Allyson Bezerra não enfrentou uma pressão semelhante, o que sugere um silêncio cúmplice por parte de certos setores da mídia e da política, que preferem evitar conflitos com figuras do governo.
A Indiferença à Violência Real
A crítica, como apontou Bruno Barreto em uma de suas análises, torna-se “assustadora e covarde” quando se silencia diante da violência real. A agressão física e a utilização de força desmedida, como a algema, não são apenas ataques a um jornalista; são ameaças diretas à liberdade de expressão e à capacidade de supervisão que o jornalismo deve ter sobre a administração pública. Normalizar esse tipo de violência em troca de um silêncio confortável apenas fortalece um ciclo de intimidação que pode resultar na fragilização da imprensa local.
A Necessidade de Responsabilidade
A falta de ação por parte da Prefeitura de Mossoró, que não se manifestou ou afastou os responsáveis pelo incidente, bem como a nota do Secretário de Segurança que se concentrou exclusivamente no “desacato”, reforçam uma sensação de impunidade que é alarmante. O governo Lula já indicou que a comunicação efetiva não é sobre gritar mais alto, mas sim sobre se fazer entender. A situação em Mossoró, por outro lado, evidencia que a força pode silenciar vozes, comprometendo o papel da imprensa na sociedade.
Quando a defesa da liberdade de imprensa é ditada por interesses políticos e varia conforme a afiliação partidária das figuras envolvidas, isso não é apenas uma falha ética — é um sinal preocupante da fragilidade democrática em nosso debate público. A resposta da mídia a uma negação de entrevista em comparação a uma agressão física deve ser uniforme e intransigente, independentemente das circunstâncias políticas. Somente assim se preservará a integridade da liberdade de imprensa e a saúde da democracia no Brasil.

 
									 
					 

